lifestyle

Sunday, April 04th, 2021
Classe económica
"I am part of everything that I have read", Theodore Roosevelt
Viajar. Verbo que só conjugamos no passado na data em que nos encontramos. Com a pandemia foi-nos cortado o acesso à cultura de outros povos, à língua tão diferente da nossa e ao friozinho na barriga sempre que o avião levanta voo. Tempos difíceis que nos levam a procurar outros escapes da realidade dura em que nos encontramos. E parece que existem mesmo outras formas de viajar, mas eu irei focar-me apenas numa, que confesso ser a minha predileta: a leitura. Desde pequena que, para mim, ler significa voar, seja no tempo seja no espaço. Desde a época medieval, sobrevivendo à peste negra, à arte do renascimento descrevendo a alma do artista, até ao período das luzes, onde o homem se confronta, um livro permite-nos perceber o mundo: como este foi concebido, de que somos feitos, e talvez, para os mais corajosos, para onde vamos. Esta contenda, recolhi-a precisamente num livro de Dan Brown, Origem. "De onde vimos, para onde vamos". E penso que nesta curta frase, está eminente a grandeza de um livro. Para além de nos transportar para qualquer lugar, seja do imaginário seja do globo, dá-nos o poder de refletir acerca de um futuro, tendo a missão de nos manter elucidados do passado. Claro que, para além do seu atributo pedagógico, a leitura representa o pecado da gula para a nossa alma: devoramos livros tentando manter o nosso espírito saciado de paixões, aventuras, dramas e conhecimento. Trata-se de o verdadeiro elixir da imortalidade, capaz de tornar a nossa história eterna. Com a impossibilidade da deslocação física o livro veio salvar-nos do tédio desta rotina tão enfadonha que parece não findar. E vamos ser sinceros, a grande diferença é que em vez de viajarmos em primeira classe e com uma vista para as nuvens, até viajamos em classe económica e com vista nas palavras. O que não é desvantajoso, porque estas nos permitem pintar a paisagem da forma mais agradável, a nosso bel - prazer.
Está na hora de mais uma viagem e citando agora o nosso querido Jack, personagem do clássico Titanic: "where to, Miss?" ao que nós respondemos... "to the stars".
Aqui vos deixo algumas sugestões 😊
Virgílio Ferreira, Aparição
José Saramago, Ensaio sobre a cegueira
Domingos Amaral, O retrato da mãe de Hitler
José Rodrigues dos Santos, O sétimo selo (e todos os outros, é excelente)
Richard Zimler, Anagramas de Varsóvia / O último cabalista
Markus Zusak, A rapariga que roubava livros
Isabel Allende: O caderno de Maya / A casa dos espíritos / O jogo de Ripper
Ken Follett: Os pilares da terra / Chave para Rebecca
Haruki Murakami: 1Q84
Dan Brown: Inferno / Origem
Boas leituras!
Sunday, March 21, 2021
Life is a Runway
2020 e também 2021 relevam-se anos onde reina a criatividade, a política do "vamos sair da caixa".
Todos sentados? O desfile vai começar...
A abrir, temos o Choque, que para esta estação não traz nada de novo, estamos todos de acordo não estamos? Vemos os mesmos traços, um pouco repetitivo. O cenário é semelhante e as circunstâncias também. Logo, o terreno não se mostra fértil à criação, apesar da tendência a revelá-lo e de já o termos visto. A seguir, vem o medo. Sabiam que o medo é uma das emoções mais antigas do mundo? Sempre de mãos dadas connosco, seja na infância, na adolescência e, sim, na idade adulta. O bicho papão que se transforma numa crise de ansiedade que por sua vez, numa outra estação, se renova. Mas nunca entra em desuso nem vai parar àquele baú dos trapos velhos. É uma tendência intemporal, apesar de ninguém gostar realmente de a usar. O negativismo dá continuidade a este espectáculo, que neste patamar também já não é novidade, vai correr mal e vai, podemos fazer algo para o mudar? Podemos. Mas, no entanto, a ideia de "vai dar errado" é também uma trend intemporal tal como o medo, só que esta o ser humano gosta muito de a usar, sente-se até vaidoso: "não vai dar certo" uh! Tão requintado! Temos também a coleção fantástica da frustração, que é um dos estilistas preferidos do público. Estar frustrado é um mood que o ser humano professa, tal como o negativismo. Cada vez mais sentimos frustração em qualquer estação das nossas vidas. Faz parte, há que saber lidar com as suas costuras. Após a frustração vem a dor. Meu Deus, mas será que este ano não há uma única emoção de que se goste e se queira adquirir? A dor é também constante, seja qual for a peça que ela apresente, sabemos que iremos usá-la, por muito que a detestemos. Parece aquela música comercial, que é horrível, mas que de tanto passar na rádio nos habituamos a ela e mais tarde, até a cantarolamos. Com uma coleção muito semelhante, surge a desgraça. Sempre tristonha, com linhas tão cinzentas. Creio que se distingue da anterior, porque podemos fugir dela, optando por usar uma peça com cores mais vivas como a atitude. Quando estamos quase a perder a esperança neste desfile da vida, começam a surgir ideias mais apelativas. Com dificuldade em apresentar uma coleção mais atrativa que o negativismo surge o positivismo, brilhante, glamoroso, algo que todos deveríamos usar, acreditem ou não ficar-vos-ia a matar! Seguidamente vem a consciência. Ah! e se o positivismo nos assentava bem, a consciência ainda nos assentaria melhor, com traços simples e belos. Por fim, a esperança, que é sem dúvida a estrela deste desfile, apresentando uma coleção sublime e leve. Todos deveríamos de vestir esperança.
Para a elaboração deste manifesto inspirei-me na fashion week -fall/winter 2021/2022- em Milão, onde imperou o silêncio dos olhares atentos de um público com sede de ver as grandes coleções a mostrarem as suas pérolas. Os grandes nomes como Louis Vuitton, Versace ou a Moschino tiraram partidos das condicionantes atuais, e criaram espetáculos únicos, que, a meu ver, resultaram em verdadeiras obras de arte em movimento. E "movimento é vida" como refere Gerry Lane, personagem de World War Z interpretada por Brad Pitt. As nossas rotinas podem ter abrandando o ritmo, mas não pararam. São fases peculiares, bizarras, que nos obrigam a praticar o exercício da reinvenção, o que nem sempre é fácil. Mas os tempos em que vivemos tornam o terreno da nossa mente fecunda para cultivo da criatividade. E tempo não nos falta, não é verdade? Está na hora de "arregaçar as mangas" e (re)criar, vamos a isso?

Sunday, march 14, 2021
Geneticamente modificado
Assim declamou Luís de Camões e tão certeiro foi. Os tempos são diferentes e as vontades são outras.
Com tantas restrições que nos são impostas nunca pensámos desejar ir ao
supermercado com tanto afinco, ou fazer uma corrida ou duas durante uma tarde
de domingo. Muita coisa se alterou é verdade, incluindo a forma de demonstração
de carinho e afeto. Creio que o maior impacto desta pandemia irá incidir nas
relações afetivas. Ora, será que a geração que se está a formar nestes meses/anos de pandemónio, ups, pandemia, reconhecerá o significado de um abraço? De um beijo?
Ou... de um sorriso, daqueles traçados com os lábios, lembram-se? É preocupante: o
amor e aquilo que o traduz está e irá ser modificado. Nos tempos que correm um
ato de amor, traduz-se como? Tão somente naquilo que outrora se entendia como uma ação de rejeição, o distanciamento. Pois é, que paradoxo este! Parece que a covid-19 não
veio só instalar o caos nos hospitais, mas em nós mesmos. Acontece que a forma
como o contágio atua é diferente : na vertente emocional a cura vai ser muito mais
difícil, a cura do não ter medo do toque. É realmente assustadora esta
realidade. Pois é, já não se trata de um pesadelo, acho que estamos mesmo
acordados. O vírus, uma partícula invisível que se desloca entre nós em passos
silenciosos, veio para ficar, assim como as consequências do seu aparecimento.
E agora questiono-me, o que será de nós, seres tão poeticamente dependentes do
toque? Será que algum dia haverá a possibilidade de reencontrar esse amor e o seu
verdadeiro significado? Talvez, mas até lá (re)aprendemos a amar segundo os
princípios deste estar no amor, geneticamente modificado.

Sunday. february 28, 2021
In your twenties
"A vida é leve e singela aos 20"
Paramos. Olhamos em frente e de repente, numa questão de segundos (talvez sejam mesmo) estamos por nossa conta. O que faço? Dizem que a fase mais confusa das nossas vidas é a adolescência, não sei se estou de acordo. Penso que aí ainda temos o percurso delineado, pré-concebido, ou então decidem por nós. O que vou fazer com o meu futuro? E de repente a caneta está nas nossas mãos e somos nós a escrever a nossa história. É uma sensação avassaladora, uma espécie de sensação de queda livre. E começamos a encaixotar. Onde? Demora algum tempo para percebermos o rumo e talvez seja algo mais fácil para uns do que para outros. Na minha perspetiva, é intuitivo. Quando? O timing da vida passa a ser estipulado por nós próprios e isso também é assustador. Emprego? Passamos uma vida, ou metade dela a ansiar pela independência, mas sem realmente sabermos o seu valor e significado. É aí que a palavra adulto começa a fazer sentido: horários, ordenado, olheiras, todo um vocabulário novo. Casa? O termo responsabilidade surge de uma forma diferente, mais crua e real, pois é, somos mesmo adultos. Existem despesas, prazos, burocracias e cenas. Casar? Claro que tudo se torna mais bonito e brilhante se tivermos uma companhia especial que partilhe sonhos, objetivos e ambições, mas até isso leva um grande update. O amor como o conhecemos muda de forma, ainda palpitante e nervoso, mas especialmente confortável e acolhedor, tornando-se num lar. Viajar? Muito. Viajar é a melhor forma de nos conhecermos a nós mesmos, de mudarmos as lentes com que vemos o mundo, de apreciarmos a vida como nunca o fizemos antes. Amizades? O significado aparece agora mais correto do que nunca, começamos a colecionar estrelas guias que nos acompanham no nosso caminho, e nós no delas. Rimos, choramos, aplaudimos e acompanhamos a melodia da vida. Filhos? Agora o ambiente ficou "pesado". É mesmo assim, em dado momento estou apta para gerar uma pequena criatura. E surge uma das fases mais bonitas deste percurso. Creio que a gravidez é algo que nos transcende. Atrevo-me mesmo a dizer que não deve de haver palavras para o descrever. Nem mesmo felicidade.
Tudo isto, e mais algumas coisas, nos teus 20. Não é maravilhoso? E recordo a música dos Bee Gees, Stayin' Alive... É a única alternativa certo?

Sunday, february 14, 2021
A Grande tendência de 2020: o amor próprio
2020 foi um mar agitado onde nos deixamos afundar numa torrente de pensamentos e ideias boas e menos boas. Acontece que, esta paragem nas rotinas tão comuns, nos fez refletir acerca de tudo o que nos rodeia e adotar uma posição seletiva face a tudo o que preenche a tal rotina. Assim foi: as redes sociais serviram de palco de grandes discursos sobre saber apreciar o hoje, saber agradecer mais em vez de tanto reclamar e, por fim, saber aprofundar o pensamento do amor próprio. E lançou-se a tendência. Toda a gente ganhou voz, toda a gente afirmou saber o que é isto do amor próprio. Mas afinal... será que todos sabem de facto praticar o amor próprio? Pois bem, acredito que tenham uma ideia, tal como eu tenho a minha. A ideia do amor-próprio não se concebe da noite para o dia, desde já. O amor próprio constrói-se e, deixem-me que vos diga, é um longo percurso. O amor próprio não serve de desculpa para desejar o mal a outrem só porque essa pessoa, de alguma forma, não teve um impacto positivo em nós. Amor próprio, como a palavra o diz, é uma relação que se produz com nós mesmos e o pior erro é cair na ilusão de que alguém exterior a este processo, possa ter alguma influência. Amor próprio é saber lidar com uma grande tempestade e ter consciência que o nosso maior abrigo, somos nós mesmos. Amor próprio, é a sabedoria de experimentar a felicidade como um estado de espírito que nós gozamos, quando nos sentimos bem, cá dentro. Amor próprio, não é uma tendência, pois não é uma ideia passageira que vai e volta consoante o gosto de cada um. Amor próprio é saber que, aconteça o que acontecer, tu vais ficar bem, porque estás bem contigo mesmo e, consequentemente, com o que te rodeia. Cultivem o amor próprio, saibam o que significa. Não se amem hoje porque ontem alguém não vos soube dar o amor que vocês tanto queriam. Satisfaçam a vossa carência para que, quando alguém vos quiser dar amor, este seja um bónus e não uma necessidade. Creio que, para mim, é nisto que consiste o Amor próprio e fico tão desgostosa, quando se transforma um processo infinito, e constante, numa tendência momentânea de redes sociais. Vamos cultivar-nos, vamos regar-nos do "bom" e amar-nos verdadeiramente. O amor começa por mim e só depois, no outro. Zelo para que o amor próprio não seja uma simples tendência sazonal, mas sim o vestido preto que é o must have intemporal do nosso armário.

Sunday, january 31, 2021
Recordar o futuro
25 de janeiro de 2021. Hoje uma segunda-feira triste, amargurada, talvez não o começo de semana que se pretendia. Após semanas de ansiedade e trémulos nervos os resultados apareceram na televisão, claros e concisos. Marcelo Rebelo de Sousa saiu vitorioso, mas a democracia portuguesa mostra-se ofendida, conspurcada. André Ventura, líder e cabecilha do movimento Chega ganhou reportório, audiência e atenção de um povo que outrora já sofreu tanto, nas mãos de ideologia semelhante. Após 47 anos do grito da revolta e da liberdade, cá estamos nós a observar o monstro a surgir das sombras, da caverna onde esteve escondido tanto tempo. A emergir com a confiança e a arrogância de quem sabe que hoje pode não vencer, mas amanhã é outro dia e aos poucos tentará expandir os seus ideais. Metaforicamente falando, a velha história da maçã da branca de neve, onde a bruxa má (André Ventura) mostra a maçã perfeita ao povo português, mas esta encontra-se envenenada e com ela traz a morte da democracia. Os tempos são difíceis, de incerteza, desespero e ânsia pela mudança, por um futuro melhor, mais bonito. Ora este panorama é terreno fértil para tais ideias e cabe-nos a nós a missão de voltar a mandar o monstro para a sua caverna, pois este não será o caminho para um futuro promissor, mas para um passado acorrentado de silêncio e medo. Por isso, hoje é um dia pesaroso, a ameaça está latente, mas nós, Heróis do mar, nobre povo/ Nação valente, imortal/ levantar-nos-emos amanhã de novo, para lutar pelo esplendor de Portugal.

Sunday, january 24, 2021
Estado de negação
Estamos em 2021, e após um 2020 bem atribulado o ano que o prossegue promete ser também desafiante. Depois de um confinamento em março e a lufada de ar fresco que o verão trouxe, entramos numa meia estação de incerteza onde os otimistas manifestam a sua descontração e a convição que a pandemia foi a miragem de um pesadelo já distante e os menos positivos, anteveem um inverno duro, num cenário onde este vírus, que nos assolou no início do ano, se propaga de forma devastadora. Assim foi, o negativismo sobrepôs-se à ilusão de um fim próximo e após restrições infindáveis como panos que cobrem uma inundação, o pior aconteceu. Os foguetes foram lançados, os brindes trocados e o ano mudou, mas a pandemia não nos abandonou. E infelizmente estamos perante um novo confinamento. Toda a gente mostra a sua revolta nas redes sociais e a culpa dispara em todas as direções. Acontece que, em vez de entrarmos em estado de emergência, em meados de outubro, entrámos em estado de negação. "É impossível confinar de novo, vai ficar tudo bem, o pior já passou, "ano novo vida nova." Acabámos então o terrifico capítulo que foi 2020 e 2021 começou com a notícia tão inesperadamente esperada, uma quarentena. Neste momento, o estado de negação continua, ainda na esperança de que alguém diga que é brincadeira e que a pandemia ficou em 2020. Já chega. Pois bem, é finalmente decretado o estado de emergência para todos e parece que este filme é mesmo uma sequela. Cabe-nos a nós gritar o fim. Vamos ficar em casa, limpar aquela cómoda 3x ao dia, fazer o bolo de laranja (saudável) que deu no programa da manhã, ler aquele livro que está há meses a ganhar pó na prateleira, mas por favor, ganhemos consciência. Este vírus só irá ser combatido com uma boa dose de empatia, respeito e resiliência. Esta é a verdadeira vacina que todos nós ansiamos. Fim ao estado de negação, e início do estado de consciência. A luz está mesmo ali, no final do túnel. Basta acreditar.

Sunday, october 11, 2020
Haverá tempo
Haverá tempo para abraçar, apertar
Haverá tempo para beijar, tocar
Haverá tempo para passear, rever
Haverá tempo para viajar, bem alto no ar
Haverá tempo para comemorar e chorar de tanto rir
Haverá tempo para reencontrar, o amigo, o lugar
Haverá tempo de reclamar da rotina
Haverá tempo de caminhar, até onde a vida nos levar.
No entanto...
Há que dar valor aos pequenos momentos, esses são os mais
valiosos
Há que saber amar fora de horas, é aí que estão as emoções
Há que saber apreciar o que nos rodeia observando cada
detalhe
Há que ler a vida como ela é, sem as diagonais de uma
revista de cabeleireiro
Há que estar com o amigo, e apreciar as linhas que temos na
nossa teia
Há que deixar para hoje o que me apetece mesmo deixar para
amanhã
Há que amar o que fazemos, se não, não fazemos o que amamos
Há que ser consciente e saber que tudo isto será possível,
se todos nós fizermos o agora que ditará o amanhã.
Hoje ainda somos prisioneiros de uma frágil liberdade, por
isso o silêncio é preciso
Cale-se agora a revolta.
Instale-se a esperança do amanhã, que seja diferente e que o mundo que
conhecemos volte renovado, como um amanhecer após esta noite infindável.
Ontem houve tempo para conjugar o presente, hoje, só podemos
conjugar o futuro.
Haverá tempo para ...

Voar...
Sempre admirei
os passarinhos. Com as suas pequenas e frágeis asas voam para bem longe
afastando-se de todo o negro céu que um Inverno pesado pode trazer. Nós,
humanos, não temos tanta facilidade em esvoaçar para terra longínqua. Cada vez
que uma tempestade se aproxima tentamos escapar, mas sem sermos bem-sucedidos.
E não é o que está a acontecer? Nós, seres
livres, tão prisioneiros das circunstâncias que nos são impostas. Nós que hoje
estamos dentro de jaulas e o amanhã, que estava tão garantido, deixou de ser
escrito, tornou-se uma espécie de copy paste do hoje. Eu, confiante na
essência da humanidade, espero que neste período de recolhimento todos nós
paremos um pouco e reflitamos no quão pequeno somos e de como é exíguo o nosso
poder, quase inexistente no nosso percurso. Sabermos reconhecer finalmente que
a liberdade tem um preço, e que nós enquanto raça tão digna e superior nunca
fomos competentes para a valorizar, porque sempre a tomámos como garantida.
Agora, ganhemos consciência que o importante deve ser ratificado todos os dias,
que devemos ser verdadeiros crentes na vida, sem a apreciarmos só quando nos
vemos balizados. Aprender de uma vez por todas que não somos os reis do mundo, como
dizia já Leonardo DiCaprio. Somos mais
do mundo do que o mundo é nosso, isso é um privilégio e não uma fraqueza
nossa. Agradecer que o que temos é o agora e por isso
continuar a sonhar um dia ser um passarinho e poder voar. Sem temer. Sem
recear. Só ir.
Liberdade, que
palavra tão bonita.
Ser Mulher
Não me vou debruçar afincadamente neste texto porque o meu papel como Mulher ainda está a ser expandido. Com 20 anos e a pouca experiência que possuo não me permitem incitar grande discussão. Adiante. Ser mulher tem muito que se lhe diga, mas eu preferi focar-me em alguns pontos associados ao seu estatuto social. Entre ser Mulher e ser Homem existe um grande abismo que poucos sabemos justificar, ou melhor, a justificação surge pré-concebida na cabeça de cada um, fruto de uma sociedade detentora de estereótipos. Quando nos referimos a sentimentos a ideia diferenciadora entre sexos é evidente. As mulheres sentem muito mais que os homens, dramatizam e sofrem e quando não o fazem e levam as coisas de animo mais leve, algo não está correto. Este facto verifica-se essencialmente nas relações. Uma mulher que não assume nem reconhece um relacionamento é lhe atribuído um carácter negativo. No entanto, se for um homem a tomar este partido a visão altera-se, pois é dado como natural o facto de estes não valorizarem tanto a questão do sentir e divertirem-se até um pouco com isso. Porquê? As mulheres deveriam ter a mesma liberdade de tornar as coisas mais leves sem correrem o risco de ser carimbadas como vulgares e apelidadas de nomes mais ofensivos. A mulher é talvez vista como um objeto sensível, que pode ser usado e posto de parte e qual é a justificação? É o que os homens fazem. E nós? Não possuímos esse direito porquê? A liberdade de nos divertirmos e anularmos a parte mais dramática e sentimental da coisa. Se o tentamos fazer corremos o risco de ser imediatamente etiquetadas como putas. A grande verdade é que por muito que lutemos por uma sociedade mais equilibrada a nível dos dois sexos, existem ideias tão enraizadas na nossa mente que não nos ocorre questioná-las, porque sempre estiveram presentes e tornaram-se de certa forma dogmáticas. Querem mais exemplos? O maior desejo da mulher é casar e ter filhos. Inquestionável. Se algum elemento do sexo feminino negar esta noção algo está errado, não é normal. Uma mulher quer casar, quer construir família. Não estou a dizer que o homem não queira fazê-lo, isso era completamente errado, mas se um homem afirmar que este plano não lhe diz muito e que prefere dedicar-se ao trabalho e ao Eu, viajar pelo mundo e ter quantas mulheres quiser, é uma visão aceitável e vista como algo típica do sexo masculino. Com estas comparações pretendo mostrar, mais uma vez, que é necessário saber relativizar as coisas para ambos os lados, e deixar certos arcaicos estereótipos de parte, numa sociedade em que a mulher se assume como ser independente e centrada na realização interpessoal é importante saber coloca-la no patamar correto e dar-lhe os mesmo benefícios que há tanto tempo estão diretamente associados somente aos homens. A mudança começa nas pequenas coisas: se somos tão senhores de uma visão inovadora do mundo, porque não concebe-la também neste patamar?

O Amor é a cura
É impossível não abordar este tema, apesar de se afastar
tanto das linhas condutoras do blog. Sinto que devo adotar uma posição
relativamente àquilo a que assisto, isto é, com o mundo e com a realidade em
que vivemos. Não é que vá mudar algo, sou um grão de areia num areal bem
extenso, mas acho que devemos ter sempre uma palavra a dizer no que diz
respeito à sociedade em que vivemos. Somos a geração futura, os políticos e os
cidadãos, os médicos e os pacientes e devemos contribuir para que o meio em que
vivemos vá de encontro à nossa ideia de mundo utópico. Neste momento, quando
olho para o mundo em que vivo, atento que esta visão não é contemplada. A
violência é uma constante e a atitude pacifista e paciente do ser humano
passaram para segundo plano. A solução para todos os problemas é baseada no bem
do próprio e as consequências das atitudes tomadas para com os outros são
completamente ignoradas. Vivemos num mundo egoísta, onde o homem revela o seu
caracter mais egocêntrico. Valores como o respeito para com o outro, a bondade,
a resiliência, o saber errar e reconhecer o erro, são completamente postos de
parte, substituídos pelo espírito animal do "salve-se quem poder". Esta
política de novos valores irá culminar no nosso infortúnio, pois esta atitude
de autossalvação, e de desprezo para com o próximo é incorreta. Fomentar o bem
comum é criar o nosso próprio bem. Em lugar da violência, dos confrontos
armados e das palavras ignóbeis, vamos espalhar amor. A cura é essa.
Espalhar o bem, ser benevolente e deixar de agir apenas em função daquilo que
beneficia o próprio. Afinal, num mundo em que o bem maior é material há que
olhar mais além e refletir acerca daquilo que nos torna realmente mais ricos.

Dias de Verão
São 9:00 horas, começo a
despertar. O sol já brilha e não pede licença para entrar. Tomo o pequeno
almoço e visto o bikini já a pensar "vai estar um bom dia de praia, vou-me
bronzear". Vamos lá, toca a arrancar. Pé na areia, cheiro a mar, som das ondas,
meu Deus, estou a sonhar. Estendo a
toalha e corro para o mar, entro na água e começo a relaxar. O sal pica na
pele e o sol está a escaldar, vamos até à esplanada e um gelado saborear. Já
são 17:00 e o sol continua a cintilar. Já comia mais qualquer coisa, uma
bolinha de Berlim, para variar. Olha, lá se ouve "olhá à bolinha" e não há que
hesitar, é importante cumprir a tradição não há nada que enganar. Após o desejo
saciado e com a vista para o mar, ficamos só mais um pouquinho, o sol ainda
está a raiar. Acordo do embalo dado pelo ondear, olho para o horizonte e foco
o meu olhar. São 20:30 o astro-rei vai abalar. Suavemente, sinto a brisa das
noites de verão a chegar. Uma lufada de frescura instala-se no ar. O dia
tórrido de calor não vai mais alongar. Chega a noite, a música começa a tocar,
é Verão não há como evitar. Regresso a casa e só me quero deitar, mas como
descansar se ele já está lá fora pronto a recomeçar?

O que é a beleza?
Há algum tempo que tenho estado a tentar desenvolver um texto acerca de Amor Próprio, do seu papel relevante para o bem estar com nós mesmos. Óbvio que não consegui. Porquê? Porque não o tenho. Depois, decidi que ia tentar abordar o tema de outra forma, tentar falar deste de maneira inversa, ou seja do ponto de vista de quem não possuí um carinho próprio. Também não arrancou. Então? Vamos ao cerne da questão. Afinal onde nasce o Amor Próprio? Do auto conceito de Beleza. O facto de alguém possuir a ideia do que é belo, e não o achar em qualquer traço seu. E atenção, não me interpretem mal, quando falo em beleza não me refiro somente a beleza física, isso seria ridículo, pois o (meu) conceito de beleza vai mais além, muito mais além. A questão é: o que é a beleza? Que critérios existem para classificar algo de belo? Não existem. Ou seja a questão não é o que é a beleza, mas sim, o que é que tu entendes por beleza. TU. O facto de ter tentado dar a volta à questão e fazer as perguntas de outra forma não torna as coisas mais fáceis de abordar. Continuo sem ideia do que estou a fazer. Sinto uma necessidade de abordar este tema, porque hoje em dia tudo gira à volta deste conceito, quando é algo tão infinitamente abismal. As definições são imensas, cada um estipula e cria o seu juízo e aplica-o, como se fosse o mais acertado. Não é. Esta conceção é tão arbitrária que é ridículo alguém aceita-la e julgar outrem consoante a mesma. Portanto, este texto parece um nó, e sinceramente não sei se o consigo desenlaçar.
Mafalda, o que é que isto tem a ver com Amor Próprio? Simples, tu achas-te belo/a? Independentemente da resposta, outra surge imediata e inevitavelmente: o que é a beleza (para ti)?
Abre as janelas. Levanta-te da cama. Agasalha-te bem. Despacha-te, vais chegar atrasada. Deixa o quarto arrumado. Toma um bom pequeno-almoço. Arruma a cozinha. Olha a roupa espalhada. Não te esqueças do almoço. Cuidado com os mafiosos. Não andes com o telemóvel na mão. Cuidado com a mala. Não te esqueças do passe. Toma atenção às aulas. Faz boas amizades. Nada de namorados (única exceção à regra, a minha mãe incentiva-me ao engate). Não andes sozinha. Orienta-me o jantar. Arruma o teu quarto (esta deixa nunca é em demasia). Sê organizada. Vai-te deitar. Desliga o telemóvel. Conta tudo à mãe. Eu conto mãe, afinal, mãe é mãe, e tu és a melhor do mundo.